” Para quem trabalha com tecnologia, o processo criativo segue uma lógica particular. Dependendo do seu estado mental naquele dia, você simplesmente não consegue avançar num código. Por isso, as pausas são tão necessárias”, diz Leonardo Coelho, 31 anos.
Um dos fundadores da Involves, empresa especializada em trade marketing e merchandising no ponto de venda, Coelho tem como prioridade criar um ambiente que facilite o relaxamento e a descompressão. Para isso, aposta em distrações como piscina de bolinhas, fliperama, massagem e mesa de sinuca.
Há ainda um espaço com guitarra, baixo, bateria e amplificadores, onde os funcionários podem soltar as mágoas em forma de rock’n’roll.
A música sempre esteve presente na trajetória dos seis sócios-fundadores da Involves. Leonardo Coelho era guitarrista da banda de rock alternativo Hot Pants, ao lado de Rodrigo Lamin (guitarra), 32 anos, e André Krummenauer (baixo), 30 anos. Pedro Galoppini, 30, e Guilherme Coan Hobold, 32, eram vocalista e guitarrista, respectivamente, de outra banda da cena independente de Florianópolis, a Grilo Joe.
Gabriel Nunes Menezes, 30, o sexto integrante, não fazia parte de nenhum dos dois grupos, mas atuava como roadie, carregando equipamentos e “tomando cerveja de graça”. “Volta e meia ainda nos reunimos para improvisar, ou para tocar nas happy hours da empresa. Os colaboradores têm de nos aguentar como chefes e também como músicos”, diz Coelho.
Foi em 2008 que os colegas da cena roqueira começaram a se reunir no quarto de Lamin e desenvolver ideias para um novo negócio. “Não tínhamos um produto específico em mente, então usávamos a tática de tentativa e erro. Tínhamos duas metas: abrir uma empresa de tecnologia e ter um produto com receita recorrente, que pudesse ser vendido no modelo software as a service, com cobrança mensal para os clientes”, diz Coelho.
O primeiro software desenvolvido foi um sistema de gestão para empresas que organizam festas de formatura. Mas a ideia não decolou. Outra aposta foi no desenvolvimento de websites para empresas.
Em seguida, a Involves criou um programa para a marcação de consultas odontológicas, com confirmação via SMS. “Fizemos algum sucesso, e daí usamos o dinheiro para alugar uma sala comercial em São José, perto de Florianópolis. O quarto na casa dos pais do Rodrigo estava pequeno para nós”, diz.
Ainda sem rumo certo, continuaram testando novos produtos. Em 2009, uma agência de merchandising de Criciúma, no interior de Santa Catarina, encomendou um software que permitisse às indústrias monitorar como seus produtos estavam expostos nos pontos de venda. “Desenvolvemos e entregamos o software, mas a agência não o utilizou”, diz Coelho.
Confiantes na força do programa, batizado de Agile Promoter, resolveram estudar a fundo o mercado de trade marketing.
Entraram em contato com outra agência de merchandising da região e conseguiram rodar um projeto piloto ainda no final de 2009. “Foi a agência quem indicou nosso primeiro grande cliente, a Cocamar Cooperativa Agroindustrial. Éramos seis garotos em uma sala comercial. Compramos uma mesa de reunião apenas para recebê-los. Foi ali que a ideia começou a ser validada”, diz.
Após o contrato com a Cocamar, a conquista de novos clientes foi apenas uma questão de tempo. “Crescemos no boca a boca. Conforme os novos clientes chegavam, descobríamos novas necessidades, que se transformavam em funcionalidades no aplicativo”, afirma o empreendedor.
A ferramenta tem um funcionamento simples. “Pelo processo manual, as indústrias — ou agências que trabalham para elas — contratam promotores que cumprem roteiros diários de visitas às lojas”, diz Coelho.
Eles são encarregados de conferir se os produtos estão bem expostos corretamente, abastecer as prateleiras, verificar se os preços acordados estão sendo praticados, estabelecer promoções e negociar espaços para maior visibilidade dos produtos (como as barracas nos supermercados no mês de São João ou as gôndolas com ovos de Páscoa).
E, depois, reportar os dados à empresa. “Com o software da Involves, esse promotor pode alimentar um app com tudo o que acontece no ponto de venda.”
As informações são transmitidas em tempo real para a indústria, o que permite a tomada rápida de decisões. “Eles podem reduzir preços em uma determinada região ou fazer uma promoção dos produtos que estão próximos da data de validade”, diz o empreendedor.
O faturamento da Involves praticamente duplica a cada ano — em 2017, foi de R$ 18 milhões.
Atualmente, são 350 clientes em carteira, distribuídos entre indústrias e agências especializadas em trade, com aproximadamente 40 mil usuários (promotores) utilizando a solução em campo.
Entre os clientes estão pesos-pesados como L’Oréal, Red Bull, Motorola, Tigre, 3 Corações, Seara, Bosch, Bombril e Danone. O software também chegou ao exterior, sendo utilizado por promotores de campo de 17 países, com especial destaque para México, Colômbia e Argentina.
Confira a seguir as principais estratégias de gestão de pessoas da empresa, segundo o sócio Leonardo Coelho.
Infraestrutura
“Desde o final de 2016, um prédio de quatro andares em Florianópolis serve como nossa base. A nova sede tem por objetivo dar suporte ao crescimento da empresa nos próximos anos, mas também proporcionar aos funcionários uma melhor infraestrutura, tanto de trabalho quanto de descanso. Esses espaços favorecem uma maior interação e disso surge muita coisa bacana.”
Feedback
Em 2016, a Involves foi eleita a melhor pequena empresa de TI para se trabalhar no Great Place to Work. Ganhar esse prêmio era um sonho nosso desde que contratamos nosso primeiro funcionário, em 2010.
Como os sócios eram amigos de longa data, era importante para nós manter esse mesmo clima com os colaboradores. Por isso, adotamos uma cultura de transparência. Damos abertura total para o feedback. A ideia é deixar todos à vontade e ouvir até as pequenas reclamações, mesmo que seja sobre a qualidade do café que compramos.”
Bate-papo
“Não demos as costas à hierarquia. O que acontece é que as decisões, inclusive as estratégicas, não ocorrem no modelo cascata, em que alguém de cima toma a decisão e o pessoal de baixo acata. Nós buscamos contribuições de todos os níveis e isso faz com que a gestão fique mais horizontal.”
Um dia na vida
“Sou metódico, algo que eu trago dos tempos em que era músico. Chego na empresa às 8 da manhã e tiro uma hora para organizar meu dia: confirmo as reuniões, envio e-mails, checo cronogramas.
Sou diretor de desenvolvimento mobile e boa parte do meu tempo vai para remover barreiras dos times de desenvolvimento. Procuro identificar onde estão os pontos em que posso ajudar, faço contato com clientes e também visitas em campo para verificar como o software está sendo utilizado.”
Estímulo
“Faço aconselhamentos diretos com os colaboradores. Muitos deles querem entender os rumos da carreira. Explico quais são as estratégias da empresa, para onde pretendemos ir, que tipo de profissional queremos ter em nossos quadros. A cada seis meses, fazemos um feedback quantitativo entre todos os ‘involvidos’.
Ali, conseguimos identificar os funcionários que mais se destacam e que serão promovidos ou transferidos. Essas promoções se baseiam em um plano de carreira, que é aprimorado praticamente todo ano.”