A lenda de Genghis Khan ecoou através da história: Um conquistador bárbaro, alimentado pela sede de sangue, terrorizando o mundo civilizado. Temos ele e sua horda mongol viajando pela Ásia e Europa, insaciáveis, fazendo de tudo para saquear, estuprar e matar não apenas as pessoas que estivessem em seu caminho, mas as culturas que elas tinham construído. Depois, não diferente de seus bandos de guerreiros nômades, essa terrível nuvem simplesmente desapareceu da História, porque os mongóis não construíram nada que durasse.
Como toda análise reacionária e emocional, isso não poderia estar mais errado. Não apenas porque Genghis Khan simplesmente foi uma das maiores mentes militares que já existiu, como ele era um eterno estudante, cujas vitórias foram frequentemente resultados de sua habilidade de absorver as melhores tecnologias, práticas e inovações de cada cultura que seu império tocava.
Na verdade, se há um tema em seu reino e nos diversos séculos de governo dinástico que seguiu, é isso: apropriação.
Sob a direção de Genghis Khan, os mongóis eram cruéis com o roubo e absorver o melhor de cada cultura que encontrassem enquanto a conquistavam. Apesar de que não houvessem essencialmente nenhuma invenção tecnológica, nenhuma construção bonita ou até grande arte mongol, com cada batalha e inimigo, sua cultura aprendia e aprendia algo novo.
Genghis Khan não nasceu um gênio. Em vez disso, como coloca um escritor de sua biografia, seu regime era “um ciclo persistente de aprendizado pragmático, adaptação experimental, e constante revisão guiada por sua vontade unicamente disciplinada e focada”. Ele foi o maior conquistador do mundo já conhecido, porque ele era mais aberto a aprender do que qualquer outro conquistador já foi.
As primeiras poderosas vitórias de Khan vieram da reorganização das unidades militares, dividindo seus soldados em grupos de dez. Isso ele roubou das tribos dos povos turcos, e sem saber converteu os mongóis ao sistema decimal.
Rapidamente, seu império em expansão os levou a ter contato com outra “tecnologia” que eles nunca tinham visto antes: cidades cercadas de muros. Nos ataques Tangut, Khan primeiro aprendeu as entradas e saídas da batalha contra cidades fortificadas e as estratégias críticas para cercálas, e rapidamente se tornou um especialista. Depois, com ajuda dos engenheiros chineses, ele ensinou seus soldados como construir armas de cerco que pudessem derrubar os muros da cidade. Em suas ações contra os jurchen, Khan aprendeu a importância de ganhar os corações e mentes. Ao trabalhar com acadêmicos e a família real das terras que conquistou, Khan foi capaz de manter e administrar estes territórios de formas que a maioria dos impérios não conseguia.
Depois disso, em cada país ou cidade que ele conquistasse, Khan chamaria os melhores astrólogos, escrivãos, médicos, pensadores e conselheiros – qualquer um que pudesse ajudar suas tropas e seus esforços. Suas tropas viajavam com interrogadores e tradutores com esse propósito.
Era um hábito que iria sobreviver sua morte. Enquanto que os próprios mongóis parecessem se dedicar quase que exclusivamente à arte da guerra, eles colocaram bom uso cada artesão, comerciante, acadêmico, humorista, cozinheiro e trabalhador habilidoso que entrasse em contato com ele. O Império Mongol foi notável por suas liberdades religiosas, e mais que tudo, por seu amor por ideias e convergências de culturas. Ele trouxe limões à China pela primeira vez, e os Chineses o macarrão para o Ocidente. Ele espalhou os tapetes persas, a tecnologia mineradora alemã, a metalurgia francesa e o Islã. O canhão, que revolucionou a guerra, é dito ter sido resultado da fusão da pólvora chinesa, lança-chamas islâmicos e metalurgia europeia. Foi a abertura para o aprendizado mongol e novas ideias que os juntou.
Quando temos sucesso pela primeira vez, nos encontramos em novas situações, encontrando novos problemas. O soldado recentemente promovido deve aprender a arte da política. O vendedor, como administrar. O fundador, como delegar. O escritor, como editar outros. O comediante, como agir. O chefe gerente de restaurante, como comandar o outro lado da casa.
Isso não é um conceito inofensivo. O físico John Wheeler, que ajudou a desenvolver a bomba de hidrogênio, observou uma vez que “Enquanto nossa ilha de conhecimento cresce, também cresce nossa margem de ignorância”. Em outras palavras, cada vitória e avanço que tornou Khan mais inteligente também empurrou ele em novas situações que ele nunca havia encontrado antes. É necessário um tipo especial de humildade para compreender o que você sabe de menos, até quando sabe e compreender mais e mais. É lembrar que a sabedoria de Sócrates tem base no fato de que ele sabia que ele sabia quase nada.
Com as conquistas vem a crescente pressão de fingir que sabemos mais do que sabemos. Fingir que já sabemos de tudo. Scientia infla (conhecimento inflado). Essa é a preocupação e o risco – achar que estamos prontos e seguros, quando na realidade entender e dominar é um processo fluido e contínuo.
O nove vezes ganhador do Grammy e Prêmio Pulitzer músico de jazz Wynton Marsalis uma vez aconselhou um jovem promissor músico sobre o conhecimento necessário no estudo da música ao longo da vida: “humildade gera aprendizado, porque ele bate na arrogância que o espetáculo coloca. Ela deixa você aberto para que as verdades se revelem. Você não fica no seu próprio caminho… Você sabe como você pode dizer se uma pessoa realmente é humilde? Eu acredito em um teste simples: elas observam e escutam constantemente, a humildade melhora. Elas não assumem, ‘Eu não sei o caminho'”. Independente do que você fez até agora, é melhor você ainda ser um estudante. Se você não está aprendendo, você já está morrendo.
Não é suficiente ser estudante apenas no começo. É uma posição que uma pessoa tem que assumir para a vida. Aprender de todos e tudo. Das pessoas que você derrota e das que derrotam você, das pessoas que você não gosta, até mesmo de seus supostos inimigos. A cada passo e a cada conjuntura na vida, existe uma oportunidade de aprender – e até se a lição for puramente de correção, não devemos deixar o ego nos bloquear de escutar de novo.
É algo que eu aprendi como autor, pessoalmente. Só porque um livro vendeu bem, não significa que o próximo irá. Certamente não significa que tudo que eu escrevo será bom ou que eu sei tudo que há de saber sobre a profissão. Pensar dessa forma é uma receita para cair e desapontar tanto as editoras quanto a audiência. Uma melhor atitude é começar do rascunho com cada projeto – para focar em tudo que falta aprender e em todo o espaço que falta para melhorar. Foi isso que eu tentei fazer com cada projeto subsequente, incluindo o mais recente (apropriadamente sobre ego).
Muito frequentemente, convencidos de nossa própria inteligência ou sucesso, nos mantemos em uma zona de conforto que garante que nunca nos sintamos burros (e nunca somos desafiados a aprender ou reconsiderar o que aprendemos). Isso obscurece nossa visão de várias fraquezas do nosso conhecimento, até chegar o momento que é tarde demais para mudar de caminho. É aí que o custo do silêncio é pego.
Cada um de nós encara uma ameaça enquanto buscamos nossa arte. Como sirenes nas rochas, o ego canta uma música calmante e validante – que pode nos levar ao naufrágio. No segundo que deixamos o ego nos dizer que somos graduados, o aprendizado pede uma pausa. É por isso que o campeão de UFC e pioneiro do MMA Frank Shamrock disse “Permaneça sempre um estudante”. Como isso, nunca acaba.
A solução é tão direta como é inicialmente desconfortável: pegue um livro sobre algo que você sabe quase nada sobre. Se coloque em lugares onde você é a pessoa menos conhecida. Esse sentimento desconfortável, essa defensiva que você sente quando suas suposições mais profundas são desafiadas – que tal se sujeitar a isso deliberadamente? Mude seu pensamento. Mude seus arredores.
Um amador é defensivo. O profissional acha o aprendizado (e até, ocasionalmente, aparecer) divertido; eles gostam de ser desafiados e feitos de humilde, e se engajam na educação como um processo em ação e sem fim.
A maioria das culturas militares – e pessoas em geral – procuram impor valores e controlar o que encontram. O que fez os mongóis diferentes foi a habilidade de pesar cada situação objetivamente, e se necessário, trocar práticas antigas por novas. Todo grande negócio começa dessa forma, mas daí algo acontece. Pegue a teoria de tecnologia disruptiva, que coloca que em algum momento, toda indústria será interrompida por alguma tendência ou inovação que, apesar de todos os recursos do mundo, os interesses incumbentes serão incapazes de responder. Por que isso? Por que os negócios não conseguem mudar e se adaptar? Uma grande parte disso é porque eles perderam a habilidade de aprender. Eles pararam de ser estudantes. No segundo em que isso acontece, seu conhecimento se torna frágil.
O grande administrador e pensador dos negócios Peter Drucker diz que não é suficiente simplesmente querer aprender. Enquanto as pessoas progridem, elas devem entender como elas aprendem e assim criar processos para facilitar essa educação contínua.
Caso contrário, estamos nos vendendo – e tornando nossas carreiras – terrivelmente curtas.
FONTE: O artigo foi publicado no blog do autor e cedido gentilmente ao Administradores.com.