Aos 45 anos, Maria Gal tem uma longa experiência como atriz, já tendo participado de produções da Netflix e novelas da Rede Globo. No entanto, o talento não a impediu de sofrer racismo. Em 2017, ao fazer audição para um filme, chegou à etapa final, mas foi recusada por conta de seu tom de pele. “O diretor optou pela atriz branca, argumentando que o tom de pele dela era mais comercial do que o meu”, afirma Gal. “Neste momento, entendi que, se eu quisesse continuar nessa área, teria de ampliar meus horizontes e empreender na produção.”
A atriz é fundadora da Maria Produtora, empresa de criação e produção de conteúdos de audiovisual para cinema, televisão e mídias digitais. O diferencial do negócio é dar visibilidade para a população negra dentro e fora das câmeras. “Queremos deixar claro que não é só uma questão de tom de pele, mas de uma cultura e de pessoas que passaram por determinadas situalções e têm um lugar de fala. É completamente diferente um filme sobre uma figura negra dirigido por uma pessoa negra ou por uma pessoa branca”, afirma a empreendedora.
Gal começou a estudar teatro há 30 anos, ainda em Salvador, na Bahia. “Estava no Bando de Teatro Olodum e já se falava da questão racial. O grupo era formado por atores que fazem a própria produção, e a minha essência como artista era de querer me produzir”, diz a atriz.
O primeiro trabalho da Maria Produtora foi em 2011, ainda no teatro, inspirado em um texto de Lázaro Ramos chamado “As Paparutas”. No entanto, a empresa ficou de lado por alguns anos. “Não fizemos muitas coisas relevantes depois do primeiro espetáculo, até porque produzir artes cênicas no Brasil não é algo fácil”, conta. Foi depois do racismo durante a audição que ela percebeu que deveria retomar o negócio, desta vez focando em produções audiovisuais.
Além de mostrar pessoas negras em frente às câmeras, a empreendedora faz questão de que os bastidores também tenham representatividade. “Em contrato, eu estabeleço que 56% da equipe seja negra. Muitas vezes, um conteúdo pode ser pautado na questão racial, mas a representatividade está apenas em frente às câmeras”, afirma. “Eu mesma já fiz campanha em que era a protagonista, mas toda a equipe por trás era formada por pessoas brancas.”
Até o momento, a produtora já fez campanhas para empresas como Intel, Claro, Braskem e Nissan. Por enquanto, a empreendedora ainda está desenvolvendo projetos maiores, como filmes e séries. Para este semestre, o plano é produzir um programa para um canal por assinatura que deve estrear no ano que vem. No entanto, ela ainda não pode revelar os nomes das produções.