As embalagens usadas no delivery levam 51% dos clientes a trocar de restaurante. É o que concluiu uma pesquisa elaborada pela consultoria de food service Galunion em maio do ano passado – em outras palavras, quando a pandemia mal tinha saído do forno. Passados quase doze meses, o delivery exibe uma força talvez inimaginável há poucos anos, o que faz das embalagens um ingrediente crucial para o sucesso – ou fracasso – de lanchonetes e companhia.
A edição da série de encontros virtuais do projeto PEGN Labs girou em torno da importância de se investir na embalagem correta. Da conversa, transmitida pelos canais da revista, participaram Ana Soares e Daniela Pilar. A primeira é chef e dona da rotisseria Mesa III e do restaurante Portinhola, que funciona apenas para delivery e take-away. Daniela é sócia do restaurante The Kitchen e das hamburguerias Frank & Charles e Chuck, essa última com funcionamento apenas virtual. A intermediação coube ao repórter Paulo Gratão.
Ana contou que o objetivo do Mesa III, cujas unidades ficam em São Paulo, sempre foi facilitar o consumo de seus produtos na casa dos clientes – a marca nasceu em 1995 e se divide entre uma loja-fábrica e uma filial equipada com um café que, até o começo da quarentena, servia refeições em uma agradável varanda. “Passamos por diversas etapas até chegar às embalagens usadas hoje em dia”, contou, lembrando que, lá atrás, as opções disponíveis no mercado eram pouquíssimas e caras. “O jeito era criar as nossas”.
Há cerca de três anos, no entanto, o intuito passou a ser o de baratear e simplificar ao máximo, em prol do meio ambiente. “Começamos a embalar as massas com os próprios papeis utilizados na pesagem e a diminuir o uso de isopores, que ainda me tiram o sono”, recordou a cozinheira. “Com a pandemia, porém, foi preciso reforçar as embalagens por motivos óbvios”.
O Portinhola foi inaugurado em outubro, quando o Mesa III completou 25 anos. Se o negócio mais antigo prepara apenas massas para finalização em casa, a exemplo do raviolini verde de ricota e espinafre, o novo despacha receitas prontas para consumo. “É um negócio que nos permite ficar mais próximos dos nossos clientes neste momento”, resume a chef. Para ele, encomendou embalagens despojadas, lúdicas e práticas – e também com itens biodegradáveis e outros recicláveis. “A sacola remete àquelas de feira e pode ser usada depois para guardar cebolas ou meias”, sugere Ana.
Para o Frank & Charles, situado no bairro de Higienópolis, em São Paulo, e comandado pelo chef Marcelo Campos, delivery não é nenhuma novidade, assim como a necessidade de boas embalagens. “Como nosso público é muito viajado e exigente, sempre nos preocupamos com a experiencia, seja na hamburgueria, seja na casa dos clientes”, afirmou Daniela.
Para tanto, o empreendimento aposta em embalagens de papelão sofisticadas, com design arrojado – a fórmula foi repetida pelo The Kitchen e pelo Chuck. “A ideia é levar a atmosfera e a identidade das nossas marcas para a casa da clientela”, resume a empresária. Em tempo: as embalagens adotadas também são biodegradáveis e recicláveis.
“O mais importante é não esquecer do principal propósito delas: manter a comida quente e com boa apresentação”, emendou. “Já vi muitas por aí que se preocupam mais com o design do que com a função. As nossas, aliás, resistem tanto ao freezer quanto ao forno”. Ao que Ana acrescentou: “Acho que a comida e o sabor sempre falam mais alto. Disso ninguém abre mão”.
As duas esclareceram que embalagens apropriadas e com personalidade, apesar de vantajosas, pesam bastante no orçamento. “Formam um custo bem pesado, principalmente se são destinadas a produtos mais baratos”, explicou Daniela. “Sachês de ketchup e guardanapos custam centavos, são considerados como custo fixo. Já as embalagens precisam entrar na ficha técnica de cada produto”.