As limitações visuais nunca foram um impeditivo para que o casal paraense Nubia Jeany Ferreira de Freitas, 50 anos, e Thonnys Athos Silva Moraes, 36 anos, se arriscasse em aventuras, como trilhas, mochilões internacionais e empreendedorismo em meio à pandemia. Os dois são donos da Avintura Vinhos Finos, uma empresa que vende vinhos com curadoria do casal. Eles ainda dão dicas de harmonização da bebida com pratos típicos do Pará. O faturamento médio mensal do negócio tem sido de R$ 20 mil.
Freitas e Moraes são funcionários públicos. Ela é professora, e ele trabalha com administração. A paixão por vinhos veio de uma das viagens do casal a Gramado, na Serra Gaúcha. Lá, eles participaram de atividades de enoturismo e ampliaram o contato com o universo da bebida.
No início da pandemia, como os dois estavam em casa e já eram famosos no círculo de amigos pelas indicações de vinhos, resolveram pesquisar opções menos conhecidas para vender. Em junho de 2020, montaram kits para o Dia dos Namorados, com vinhos comprados em e-commerce. “Percebemos que muita coisa não chegava a Belém. Começamos a ir atrás de fornecedores e abrimos uma MEI (Microempreendedor Individual) para fazer as negociações”, afirma Moraes.
Em setembro, enquanto buscava por outros fornecedores, o casal conheceu a EducaVinhos, uma comunidade de empreendedores que ajuda a fomentar e qualificar os negócios do ramo. “Esse contato nos ajudou a ter acesso a vários importadores, além de trocar ideias e ajudar pessoas do mesmo ramo em outras partes do país”, diz o empreendedor.
A Avintura Vinhos tem como principais canais de venda Instagram, WhatsApp e plataformas de delivery. O casal contratou os serviços de uma pessoa para ajudar no desenvolvimento de artes para as redes sociais e já pensa em chamar outra para lidar com questões administrativas, como estoque e emissão de notas. “Gerenciamos isso com aplicativos, mas não conseguimos fazer 100%, porque as ferramentas não são adaptadas para nós.”
A empresa começou a decolar em dezembro do ano passado, quando bateu R$ 10 mil em faturamento pela primeira vez. As estratégias foram lançar promoções com combos de garrafas selecionadas e harmonizações criativas com pratos típicos da região, como maniçoba e tucupi. “Acontece muito de gente de fora do estado e até do país comprar com a gente para presentear alguém daqui”, conta Moraes.
Freitas consegue ver luz, enquanto Moraes vê apenas alguns vultos. “Não enxergar é um fator que dificulta, mas não impede de querermos fazer o que fazemos. Conseguimos lidar bem com tecnologia e fazer lives, mas não conseguimos ver os comentários.”
Lives, inclusive, são uma forte característica da Avintura: enquanto Moraes é instrumentista, produtor e professor de música, Freitas canta. Periodicamente, os dois transmitem uma apresentação nas redes sociais chamada “Decanta”, que faz referência aos dois universos, música e vinhos — e ainda serve como uma espécie de live commerce, com apresentação e venda de produtos.
O casal de empreendedores está junto há 13 anos. Conheceram-se quando ela era repórter e ele, que fazia um curso de fotografia, foi um de seus entrevistados. Pouco tempo depois, Moraes foi ministrar aulas de violão na escola em que Freitas trabalhava. O restante da história é muita aventura… e vinho. “Hoje a empresa é nosso plano B, mas nosso objetivo é crescer para que se torne o A e único”, conclui o empreendedor.2