Depois de décadas como alvo das grandes franquias, o Interior e o Litoral desvendaram os segredos desse formato de negócio e, no caminho inverso, passaram a exportar suas unidades para as metrópoles de vários estados.
É o caso da Vim, Vi, Venci, rede de loja de vestuário infantil aberta em 1984 e que em 2012 passou a trabalhar por meio de franquias. Das dez unidades, seis são próprias e quatro franqueadas – uma delas está em São Paulo. “Minha intenção é crescer em um ritmo suportável, sem aventureiros”, afirma o proprietário, André Aguiar Leal Garcia.
Já o empresário Renato Junqueira, de 46 anos, contrariou a vocação agrícola de Registro, no Vale do Ribeira, e instalou na cidade a Federal Invest, empresa de factoring (antecipação de recebíveis, entre outros serviços).
O formato de franquia da Federal Invest começou a ser utilizado em 2002 e já conta com mais de 120 unidades em todo o País. “No Interior, o custo é mais baixo e não quero saber de ir para São Paulo”, afirma ele, que credita a Registro os pés no chão para avançar no mercado financeiro.
A House-Maid, empresa de limpeza para residências e escritórios, também cresce do Litoral para as metrópoles. São 18 franquias e três lojas próprias em Curitiba, Belo Horizonte, Piauí, Rio de Janeiro e Salvador, além da Baixada Santista.
A rede nasceu há três anos em Guarujá porque o fundador, o português Nuno Calado, que tinha acabado de chegar ao Brasil para atuar como empresário, não se adaptou ao gigantismo de São Paulo. “Ficamos em Santos e depois um corretor nos mostrou Guarujá”. Porém, para administrar a expansão da House-Maid, levou o escritório para a Capital há poucas semanas.
O consultor da Rizzo Frachize, Marcus Rizzo, afirma que nos últimos oito anos as franquias pararam de nascer apenas em São Paulo e algumas grandes capitais e começaram a surgir do Interior, em um movimento que ele chama de “enxurrada”. Muitas delas, diz, são de cidades como Campinas e Santos.
No caso da Baixada Santista, Rizzo contabiliza em seu cadastro 16 franqueadoras caiçaras, que são as companhias donas das marcas que contratam os franqueados (empresários que pagam pelo direito de usar processos e produtos dos franqueadores e operar com a marca).
Entre as 16 estão franquias de clínicas odontológicas, fast food asiático, call center, plano de saúde e sucos – a maioria ainda em fase de desenvolvimento do formato de franquia.
‘Cara’ de franquia
De acordo com o consultor, a transição para franqueador se dá após o dono notar que tem um negócio bem montado e pronto para crescer e com “cara” de franquia: marca forte e conceitos não explorados pela concorrência, por exemplo.
Entretanto, Rizzo afirma que a expansão caiçara e de franquias interioranas não acontece por qualidades regionais. “O sucesso vem do conceito do negócio, que desbrava um mercado não aderente que vai acabar aderindo (à marca)”.
Ele cita como exemplo um clássico mundial, o McDonald’s. “Até os anos 1970 (os americanos chegaram em 1979) o brasileiro não saía para comer hambúrguer. Era no máximo um cheese salada”, diz o consultor. O fast-food ainda inovou com a velocidade do autoatendimento, lanche pronto na hora que o cliente chega ao caixa e cardápio enxuto. “Com a expansão consegue-se levar conceitos para outros lugares”.
Converse com ex e atuais franqueados
“O mais legal da franquia é que se pode conversar com a ex-esposa ou ex-marido daquele que se pretende casar, o que separou e ainda o que está casado”, diz o consultor da Rizzo Franchize, Marcus Rizzo.
A brincadeira é uma referência a uma checagem obrigatória: antes de assinar contrato, consultar um ex-franqueado e um atual para conhecer todos os prós e contras do negócio.
Rizzo recomenda a quem vai abrir uma franquia (o franqueado, quem compra os direitos de operação) observar a experiência do franqueador (dono da marca). Segundo ele, o conceito do negócio precisa ter sido testado em outras unidades com pelo menos dois anos de experiência.
Além disso, é preciso observar o ciclo de vida da marca, como seus produtos são preparados ou produzidos e se há sazonalidade. Por exemplo, se for uma sorveteria, como a franquia sobreviverá no inverno.
Rizzo alerta para franquias oferecidas como “negócios incríveis”. O consultor também não gosta de franqueadores que vendem o mix de produtos aos franqueados, principalmente se esses itens terão que ser adquiridos de uma forma obrigatória, sem permissão para comprar de outros fornecedores.
De acordo com ele, isso faz o dono da marca centrar o foco no estoque e não no caixa do franqueado. Rizzo conta que há casos em que o fundador empurra seus produtos, mesmo que as vendas na franquia estejam mais lentas.
Também é importante ser bem treinado pelo franqueado, como parte de um pré-contrato, afirma Rizzo. Só depois se deve assinar o contrato final. Fique atento ainda à circular de oferta de franquia, que traz todas as informações sobre a parceria, sendo útil até em eventuais brigas na Justiça.