A pandemia causada pelo novo coronavírus teve efeitos desastrosos na economia e no sistema de saúde de muitos países. Para a Numenu, que vendia itens como carregadores e doces dentro de carros compartilhados, foi o momento ideal para rever o modelo de negócio e buscar frentes mais rentáveis.
O fundador Rafael Freitas atuava como executivo de inovação de uma siderúrgica que atendia o setor automotivo. Ao mesmo tempo em que estudava o crescimento dos carros compartilhados, passou pela experiência pessoal de esquecer o carregador do celular e precisar comprar em um posto de combustível. “Fiquei pensando por que não vendiam esses produtos nos próprios carros”, diz Freitas.
Startups como a americana Cargo também já praticavam esse modelo de venda dentro de automóveis compartilhados.
A Numenu chegou a ter estações de compra em mais de 2 mil carros e parcerias com empresas como o aplicativo de mobilidade urbana 99 e as fornecedoras Bic, Mãe Terra e Mondelez. Com a pandemia causada pelo novo coronavírus, Freitas estima que o movimento caiu 90% para os motoristas de aplicativo.
“A Numenu ia morrer junto com essa estatística. Então decidimos levar nosso propósito de conveniência e tecnologia para condomínios residenciais”, diz o fundador. A Numenu já estava estudando formas de expansão antes da pandemia, incluindo a chegada aos condomínios. A crise econômica acelerou os planos da startup.
O empreendimento divulgou um panfleto na semana passada pela internet e recebeu o contato de 300 síndicos. Nesta semana, a Numenu instalou seus pontos de venda em 20 condomínios nos bairros paulistanos de Brooklin, Morumbi e Pinheiros.
Cada morador acessa a Numenu Store, olha os produtos disponíveis em seu condomínio, realiza o pagamento (por meios como PicPay e Paypal) e retira os itens no ponto de venda.
O condomínio não paga para ter uma máquina instalada. As fabricantes enviam produtos ao centro de distribuição da Numenu, que se encarrega de logística e reposição. Um algoritmo manda alertas para a startup indicando que é a hora de repor itens em cada um dos condomínio. A Numenu se monetiza cobrando uma margem em cima dos produtos.
“A fabricante ganha um novo canal de venda e também informações agregadas sobre perfil de consumo. Podemos dizer quais produtos foram consumidos e em quais horários”, diz. Já o consumidor ganha conveniência e a sociedade como um todo pratica o isolamento, essencial para este momento de pandemia de Covid-19.
Futuro da Numenu
Para o fundador, porém, compras no condomínio não são apenas uma necessidade passageira: o hábito veio para ficar. “Essa entrega de valor será mantida”, diz.
Enquanto nos carros havia uma mistura de urgência e indulgência, os produtos nos condomínios vão além de carregadores e doces. Há itens para quando o consumidor se esquece de alguma compra de supermercado, como absorventes, leite condensado, molhos e produtos de limpeza. Também há bebidas alcoólicas, energéticos e cápsulas de café. A Unilever já é parceira da Numenu, com venda exclusiva em alguns condomínios.
A startup irá encerrar definitivamente seu modelo de venda dentro de carros compartilhados. “Víamos um churn [taxa de desistência] alto, porque motoristas olham para os aplicativos como um emprego temporário. É muito custoso reconquistar motoristas, especialmente no volume que teríamos após a pandemia. Esse custo nos condomínios é bem menor.”
O faturamento médio mensal estimado é de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil por condomínio. A previsão é chegar a 50 condomínios até o final de abril. A Numenu espera faturar entre R$ 40 mil e R$ 50 mil em maio, estimando que os edifícios têm uma curva de conhecimento sobre seus pontos de venda. “Estamos em uma época de aprendizado. Depois iremos expandir para mais bairros de São Paulo”, diz Freitas.
Até o final deste ano, serão 150 condomínios — e a expectativa de que as vendas continuem mesmo após a pandemia de Covid-19.