A faculdade de contabilidade não combinava com Ana Paula Bê, de 26 anos. A jovem estava no quinto semestre, mas sentia que destoava muito dos seus colegas de classe — tanto na personalidade quanto no estilo. “Quando eu abandonei o curso, até meu professor comentou que eu deveria trabalhar com moda”, afirma.
O professor estava certo. Um ano depois, ela fundou a Roupas da Bê, e-commerce de moda que comanda dentro de seu próprio quarto em Cabreúva, no interior de São Paulo. Com as vendas das peças, a empreendedora consegue faturar R$ 16 mil por mês.
O negócio surgiu no final de 2014, quando ela decidiu vender suas roupas que estavam paradas em casa e criou uma página no Facebook com o nome Roupas da Bê. Na época, ela nem pensou que esse seria o título, era apenas uma descrição do que ela ofereceria. Bê até tentou mudar o nome depois, mas a plataforma não permitia.
A surpresa para ela foi que as suas roupas foram vendidas super rápido e as clientes ainda pediram por mais. Ela tinha ganhado R$ 700 com as vendas, e decidiu gastar R$ 300 para comprar mais peças e revender (e mais uma vez conseguiu). Na vez seguinte, gastou R$ 600. E assim, o negócio foi crescendo. O nome Roupas da Bê permaneceu porque já tinha ficado conhecido entre as consumidoras.
Na época, ela trabalhava na prefeitura, no setor de assistência social, e se dedicava à loja na parte da noite. Depois de um ano dividindo a rotina em duas funções, ela pediu demissão de seu emprego para se dedicar apenas à marca. Procurou um espaço para alugar e montar a loja física. “Aluguei uma sala super pequena em que cabiam duas araras, uma mesa e um provador. Lembro que pagava R$ 500 de aluguel e fiquei por lá um ano”, afirma. Depois, ela decidiu trocar de sala e ir para um lugar um pouco maior.
Mas percebeu que as pessoas iam mais para retirar produtos que já haviam comprado pela internet. “O meu forte sempre foi digital: 90% das vendas eram online, o espaço físico estava funcionando mais para eu ter um motivo para sair de casa”, diz Bê, que fechou o local depois de um ano.
Altos e baixos
Com a loja física encerrada, Bê se casou, foi morar em Campinas, também no interior de São Paulo, e trabalhou com a sua marca no esquema home office. Foi um período difícil para ela, que se sentia desmotivada com o trabalho por não ter seu espaço profissional. “Foi uma época em que as minhas vendas caíram. Eu trabalhava, mas não conseguia fazer fluir. Eu não conseguia realmente me satisfazer profissionalmente”, diz a empreendedora. Ficou um pouco menos de um ano em Campinas e voltou para a sua cidade, Cabreúva, em abril de 2019.
“Foi um baque ter voltado. Primeiro, porque eu estava passando por um divórcio com menos de um ano de casada. Eu também estava voltando para a casa dos meus pais e para uma cidade muito pequena, então houve muitos comentários. E continuava desmotivada com a loja”, afirma. Foram vários obstáculos, mas ela conseguiu voltar para o emprego na prefeitura e foi se estabilizando novamente.
A loja foi retomada em um ritmo mais lento, com Bê novamente se dividindo entre o emprego e o negócio próprio. Durante a pandemia, o crescimento acelerou. O faturamento mensal da marca aumentou 500%. “Acho que as pessoas tiveram mais impulso para fazer compras. E não têm pressa de comprar uma roupa para usar na mesma sexta-feira em um evento”, afirma. Além disso, ela teve menos demanda no trabalho e conseguiu se concentrar na loja.
O sucesso, diz, tem a ver com o estilo de fotos que ela adotou para divulgar a loja. “Eu não uso foto de fornecedor nem de modelo. São imagens mais criativas, em que eu tento mostrar o ambiente junto com a roupa”, ressalta a empreendedora. Por exemplo, em uma foto para o verão, ela coloca junto bronzeador, chapéu e um óculos de sol. “Isso ajuda a pessoa a se imaginar usando as roupas naquela situação.”
Em dezembro, ela sairá novamente do emprego fixo para se dedicar em tempo integral à loja, em que terá também a ajuda do namorado. O casal já alugou um espaço para trabalhar, onde funcionarão escritório e showroom. Além disso, ela pretende se inserir em marketplaces, como Amazon e Mercado Livre, para atrair mais consumidores.