O empreendedor brasileiro terá de tomar uma série de decisões estratégicas em 2022 para garantir a sobrevivência de sua empresa. Com tantos riscos e incertezas no horizonte próximo, fazer um planejamento financeiro cuidadoso e que contemple cenários distintos é agora um desafio (bem) maior do que nos anos anteriores.
Em outubro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu as projeções de crescimento global. De acordo com o relatório World Economic Outlook, o crescimento da economia brasileira deve ser de 1,5%, uma redução de 0,4 ponto percentual em relação à previsão feita em julho. Já o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve ficar em 4%.
O empreendedor brasileiro terá de tomar uma série de decisões estratégicas em 2022 para garantir a sobrevivência de sua empresa. Com tantos riscos e incertezas no horizonte próximo, fazer um planejamento financeiro cuidadoso e que contemple cenários distintos é agora um desafio (bem) maior do que nos anos anteriores.
Em outubro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu as projeções de crescimento global. De acordo com o relatório World Economic Outlook, o crescimento da economia brasileira deve ser de 1,5%, uma redução de 0,4 ponto percentual em relação à previsão feita em julho. Já o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve ficar em 4%.
Para ter controle sobre a empresa, o empreendedor tem de conhecer muito bem o negócio e o setor em que atua. Embora existam muitas dúvidas sobre o futuro, é possível trabalhar com algumas certezas. Mercados que tiveram um boom de crescimento na pandemia, como os de bens de consumo duráveis e da moda, terão recuperação mais lenta, enquanto áreas ligadas à tecnologia continuarão com demanda elevada.
Consenso entre os especialistas, a mudança de comportamento do consumidor deve estar no centro das atenções. Com novos hábitos, ele está mais exigente e criterioso na hora de gastar. A disputa pela sua preferência, portanto, será mais acirrada. Os laços de fidelidade às marcas estão mais frágeis. Quem souber atender às expectativas do cliente terá boas chances de conquistá-lo. Frustrá-lo fará com que ele mude, sem pestanejar, para a concorrência.
Para ajudá-lo a preparar o planejamento financeiro de 2022, PEGN conversou com empreendedores, acadêmicos e consultores. O controle rigoroso dos recursos, mostram eles, é o caminho mais seguro para atravessar esse período de turbulência com relativa segurança. O próximo ano exige cautela, pés no chão e um olhar para o futuro – tudo para garantir a perenidade da empresa.
Custos de ocupação
Repense o tamanho do negócio, elimine o desperdício e negocie valores menores
Reavaliar os custos de ocupação é uma tarefa obrigatória para quem deseja reduzir despesas em 2022. Vale a pena manter a estrutura física atual com grande parte dos funcionários trabalhando em casa? Com o atendimento virtual, é melhor mudar para um bairro mais afastado e, assim, reduzir o valor do aluguel? Como baixar o consumo de energia elétrica, em meio à grave crise hídrica?
Com cerca de 15 milhões de desempregados e inflação crescente, o consumidor deve limitar seus gastos a itens essenciais. Cada real economizado, portanto, é importantíssimo. “O empresário tem de conhecer seu custo fixo, além do variável, para saber qual será o faturamento necessário para cobrir todas essas despesas”, sugere Wagner Antonio Jacometi, consultor do Sebrae. “Ignorar esse dado comprometerá a saúde financeira da empresa.”
O ideal, diz ele, é que o percentual dos custos de ocupação se mantenha sempre estável. No caso das pequenas empresas, esse índice deve chegar a, no máximo, 5% da receita. Para uma loja em shopping, que tem embutido em seu condomínio mensal taxas como serviços de limpeza e manutenção, ar-condicionado, segurança e até fundo de promoção, esse percentual tem de girar entre 12% e 15%.
O que fazer
– Renegocie o aluguel. O momento é favorável. Com a pandemia, muitos negócios fecharam e a oferta de imóveis é grande. Por isso, alguns proprietários estão mais flexíveis no momento da renovação do contrato. “Se não for possível obter uma redução do preço, manter o valor atual por mais um ano já é vantajoso”, diz Jacometi.
– A maioria dos aluguéis é reajustada pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), mas -tente negociar o reajuste pelo IPCA. No período de um ano, entre setembro de 2020 e agosto de 2021, o IGP-M acumulado ficou em 31,12% e o IPCA, em 9,68%.
– Caso o aumento seja incompatível com o orçamento, considere mudar para um imóvel mais barato. Se o negócio não depende tanto da presença física ou se os colaboradores devem permanecer em casa, ir para um espaço menor e num bairro mais afastado vai proporcionar uma boa economia.
– Algumas medidas simples podem ajudar na redução de despesas. Trocar as lâmpadas fluorescentes por LED faz a conta de energia cair, em média, 85%. Aproveitar a água da chuva também ajuda. E, importantíssimo, conscientize sua equipe. A responsabilidade é de todos.
Que tudo acabe em pizza
A rede de pizzarias Ale Nek’s, fundada em 2020, em Uruguaiana, no interior gaúcho, foi planejada desde o início para ter o menor custo de ocupação possível. Em vez de entregar aos franqueados os discos de pizza prontos e congelados, a fundadora, Virgínia Ueda, 34 anos, desenvolveu uma massa seca. Basta adicionar água e farinha e prepará-la no balcão. “Não preciso de freezers para conservar o produto nem pagar frete especial para manter o resfriamento”, diz. “Isso reduziu a despesa com energia em 50%.”
O frete também é menor. Para enviar discos congelados para a unidade de Maceió, em Alagoas, por exemplo, ela gastaria cerca de R$ 4 mil. Mas como o pó não exige grandes cuidados de conservação, o valor cai para R$ 400. Os franqueados não contratam pizzaiolos, pois as próprias atendentes fazem a mistura e abrem os discos, o que economiza nos gastos com pessoal.
Para reduzir a conta de água, as pizzas são servidas numa bandeja de papelão, e os clientes recebem uma luva descartável, para comer com as mãos. Assim, não há tanta louça a ser lavada. Em sua loja piloto de Uruguaiana, Virgínia economiza cerca de R$ 500 por mês nos gastos com água. O marketing faz a sua parte: a Ale Nek’s defende que pizza de verdade se come com as mãos.
A empreendedora ajuda ainda os franqueados a negociar o aluguel. Mas antes de se sentar com os donos dos imóveis, ela orienta seu pessoal a dar preferência para espaços antes ocupados por lanchonetes e restaurantes. “Assim, é possível reduzir os custos da reforma, pois a estrutura já está lá”, afirma.
Na hora de fechar o contrato, ela insiste que o reajuste anual seja feito pelo IPCA. Como os shoppings não costumam abrir mão do IGP-M, Virgínia pede redução do valor do aluguel, isenção de luvas e redução de 50% do fundo de propaganda. A Ale Nek’s tem oito lojas franqueadas. A expectativa é chegar a 30 unidades no final de 2022, com previsão de faturamento de R$ 3 milhões.
Precificação
O preço justo de produtos e serviços leva em conta o valor que o consumidor está disposto a pagar
A crise econômica, a inflação alta e o aumento dos insumos obrigam os empreendedores a rever o preço de seus produtos e serviços para o próximo ano. Repassar parte dos custos para o consumidor é a medida mais adotada para aumentar a margem de lucro rapidamente. “No momento em que as pessoas estão mais rigorosas na hora de gastar, aumentar os preços indiscriminadamente pode levar à queda das vendas”, diz Márcio Iavelberg, da consultoria Blue Numbers. Ao rever os preços, também evite compará-los com os da concorrência. Essa estratégia não leva em conta as despesas dos competidores.
A formação do preço segue uma regra básica: a margem tem de cobrir os custos e as despesas. As vendas a prazo não podem ter o mesmo tratamento daquelas feitas à vista, uma vez que a inflação atual corrói rapidamente o valor do dinheiro. Para não ter prejuízo ao parcelar a venda, é preciso considerar quanto custa financiar empréstimos no banco e o nível de inadimplência do setor.
Outra medida eficiente é não mexer no valor, mas reduzir o volume do produto. Uma prática muito usada pela indústria de alimentos, quando, por exemplo, as embalagens de 500 gramas de achocolatado passaram a ter apenas 400. “Não é errado fazer isso, desde que o fabricante seja transparente e estampe na caixa um alerta sobre a nova quantidade”, defende Maurício Galhardo, sócio da consultoria FFCube.
Se ainda assim o produto não alcançar uma margem satisfatória ou o mercado não aceitar o reajuste, talvez seja a hora de partir para o remédio amargo e tirar o produto de linha. 2022 exige frieza do empresário.
O que fazer
– Lembre-se de que a precificação de novos produtos e a dos já consolidados são distintas. “Há o preço de entrada, o de permanência e o de saída”, diz Iavelberg. “Quando a marca conquista seu espaço, é possível cobrar mais. Mas quando perde mercado, o empreendedor tem a opção de baixar o preço e queimar o estoque.” Considere variáveis como sazonalidade e datas festivas.
– Leve em conta também o peso dos produtos no orçamento familiar. É mais fácil o consumidor pagar 50% a mais pelo quilo do sal do que pela assinatura de um canal de TV.
– Tenha em mente o tamanho da concorrência. Quem não tem de disputar cliente tem mais facilidade para aumentar seus produtos.Evite vender um produto com preço muito abaixo do mercado. Isso só funciona em situações específicas. Como chamariz para outros itens que estão fora da promoção, por exemplo.
– Em setores nos quais a decisão de compra está baseada na paixão do consumidor, é mais fácil reajustar os preços. O mercado de produtos para cães e gatos, veja só, não enfrentou crise alguma. Pelo contrário. Prosperou na pandemia.
Coleções de 2021 com preços de 2021
A pandemia atingiu em cheio a Piticas, marca de vestuário geek e de cultura pop. Com cerca de 93% de suas 470 franqueadas em shoppings e centros comerciais, a empresa, fundada em 2010, viu seu faturamento mensal despencar de R$ 15 milhões para R$ 300 mil em 2020. As vendas online se mantiveram nos usuais 13%. “Sempre fomos uma marca física. Nosso consumidor gosta de admirar e sentir o produto, antes de comprar”, diz Felipe Rossetti, 35 anos, que tem como sócio o irmão Vinicius, 37.
Eles descartaram desde o início da crise fazer grandes liquidações e queimas de estoque. Na opinião de Felipe, não pega bem para a marca se preocupar em vender seus produtos quando a população está com dificuldades para colocar comida na mesa. A prioridade tem sido cuidar da saúde e do bem-estar dos mil funcionários da fábrica de Guarulhos, na Grande São Paulo, e dos outros 150, da área de franquias. Uma das saídas no ano passado foi produzir máscaras e aventais hospitalares, o que ajudou a manter todos os empregados.
Até 2020, a venda de produtos como camisetas, canecas e jogos licenciados dependia do desempenho dos filmes dos grandes estúdios americanos. Com os cinemas fechados, a Piticas apostou no sucesso das séries das plataformas de streaming. A empresa voltou a crescer e se prepara para abrir novas lojas em 2022.
A Piticas adota uma estratégia que Felipe chama de valor justo e leva em conta, além dos custos de produção e tributos, o valor e a duração dos contratos de licenciamento. A precificação é feita de acordo com cada coleção, com padrões predeterminados. Há sempre uma camiseta com preço de entrada de R$ 49,90 como chamariz. As lisas ou contendo um desenho centralizado custam entre R$ 59,90 e R$ 69,90. “Nosso consumidor é um fã apaixonado pelos personagens e não costuma brigar por descontos”, conta.
Com o dólar em alta, Felipe e Vinicius buscaram fornecedores no Brasil, para não aumentar o preço dos produtos importados da China. As canecas com estampa em 3D agora são vendidas com imagens em 2D. Apesar de todos os esforços contrários, Felipe não descarta o aumento de preços em 2022. Uma decisão, porém, já está tomada. Coleções lançadas em 2021 não sofrerão nenhum reajuste.
Crédito
O dinheiro para pagar financiamentos deve caber no seu fluxo de caixa
Buscar crédito não será fácil em 2022. Além das taxas de juros elevadas, os bancos estão mais cautelosos — querem correr menos riscos e exigir mais garantias. Antes de aceitar a primeira proposta que aparecer, avalie o contrato cuidadosamente. Não tenha pressa e refaça as contas para saber se o fluxo de caixa comporta as parcelas, os juros e o prazo do financiamento. “Defina antes qual valor máximo é viável pegar e faça um planejamento levando em conta um cenário pessimista, um conservador e um otimista para evitar surpresas”, orienta Virgínia, da Fundação Dom Cabral.
Em geral, os bancos estatais e de desenvolvimento e fomento oferecem algumas vantagens em relação aos bancos privados, como taxas de juros menores e maior flexibilidade para pagamento. A burocracia costuma ser menor. O Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) permite empréstimos de até 30% do valor da receita bruta anual e oferece prazo de até 36 meses para quitação e carência de oito meses.
A taxa de juros anual máxima é de 6% mais a Selic. Esse dinheiro deve ser utilizado para pagamento de despesas operacionais, como salário da equipe e aluguel ou aquisição de novos equipamentos e máquinas. Outra opção são as fintechs, menos burocráticas do que os bancos privados e mais flexíveis na concessão de crédito, parcelamentos e prazos.
Um erro comum é fazer um empréstimo pessoal para investir na pessoa jurídica. Na maioria esmagadora das vezes, esse tipo de crédito é mais caro do que o destinado às empresas. “Além das taxas de juros mais altas, não há nenhuma linha que ofereça um período de carência para pessoa física”, alerta Jacometi, do Sebrae. “As melhores condições sempre são voltadas às organizações.”
O que fazer
– Tão importante quanto definir um limite para o empréstimo é saber exatamente o que fazer com o dinheiro. O ideal é entrar numa dívida importante somente se for para alavancar o negócio. Um investimento que trará retorno e colocará a organização em outro estágio de crescimento. “Por outro lado, repense bem antes de usar esse recurso para pagar a folha de pagamento, por se tratar de uma despesa recorrente, embora existam casos em que não há outra saída”, diz Virgínia. “Deixar de pagar os funcionários é pior.” Mais arriscado ainda, afirma a economista, é fazer um financiamento para saldar outro que está com as parcelas atrasadas. O empreendimento pode entrar num círculo vicioso e passa a existir somente para pagar dívidas.
– No caso daqueles que estão endividados ou começarão o próximo ano no vermelho, o melhor a fazer é procurar a instituição financeira e tentar renegociar. Os bancos estão mais receptivos. Antes, no entanto, avalie se conseguirá honrar o novo compromisso e seja transparente: apresente o plano de negócio, os números do fluxo de caixa e a expectativa de faturamento. Tente obter um desconto, uma nova carência ou um prazo maior para pagar. Vale lembrar que o fluxo de caixa passou a ser aceito como garantia.
A empresa de impacto social Mais1Code, de ensino de informática a jovens de baixa renda, foi fundada em 2019, com investimento zero. Diogo Bezerra, 28 anos, formado em marketing, aproveitou os computadores que tinha em sua escola de inglês online PLT4Way e convidou o amigo de adolescência e webdesigner Tauan Matos, 27, para sócio.
Eles nasceram e cresceram no bairro da Brasilândia, na Zona Norte paulistana, e conhecem as dificuldades dos jovens de comunidades carentes no acesso à educação. “Não havia nenhum projeto voltado para a formação profissional desse pessoal”, diz Bezerra. “As escolas eram afastadas e os cursos não falavam a linguagem da quebrada.”
A Mais1Code tem atualmente 270 alunos, que estudam gratuitamente e moram em várias regiões do país. As aulas são dadas por professores voluntários. Aqueles que concluem o curso formam um banco de talentos, e as organizações interessadas pagam uma taxa por contratação. Ou podem pagar apenas pela formação dos jovens, para integrá-los à equipe sem nenhum custo adicional. O aluno formado que se emprega por conta própria contribui com 15% do valor do salário, ao longo de um ano.
Para levar a empresa ao próximo patamar, Bezerra está negociando um empréstimo entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão junto à Yunus Brasil, de concessão de crédito para negócios de impacto social. O objetivo é investir em equipamentos mais modernos, na contratação de 12 profissionais e na estruturação das áreas administrativa, de marketing, projetos e vendas. As condições de pagamento são facilitadas. A Yunus disponibiliza valores muito maiores, a juros mais baixos do que os bancos tradicionais, e a carência para começar a pagar é de um ano.
Bezerra já fez as contas: se o número de alunos chegar a mil em um ano e 600 deles se formarem nesse período, a Mais1Code fatura R$ 1 milhão. E, se conseguirem atrair mais empresas dispostas a bancar os cursos ou usar o banco de talentos, esse valor poderá saltar para R$ 3 milhões. “Se o crédito é importante para qualquer empreendimento crescer, para um negócio de impacto é fundamental”, afirma. “Dinheiro não resolverá todos os problemas, mas nos ajudará a expandir a empresa e levar formação de qualidade para um número muito maior de jovens.”
Pessoas
Defina o perfil de cada vaga para não errar na hora de contratar
A decisão de contratar ou não novos funcionários passa pela análise da situação da empresa, da equipe, das expectativas de crescimento do setor e do cenário econômico. O aumento no número de colaboradores tem um impacto importante nos custos fixos. Só vale a pena se a empresa estiver bem estruturada e preparada para atender às demandas crescentes do mercado.
“Caso o empresário esteja usando a capacidade máxima de seus empregados e até pagando horas extras, então é o momento certo para buscar talentos”, defende Renan Pieri, professor de economia da FGV Eaesp. “Quem não contrata quando tem certeza do cenário favorável deixa de crescer.”
Encontrar os profissionais certos, porém, não é tarefa simples. Exige um estudo minucioso do perfil das vagas e das qualificações dos candidatos. Errar no recrutamento sai caro. Além dos custos do processo de seleção e da adaptação do empregado, é preciso arcar com as despesas de desligamento e a multa de 40% do valor do FGTS — sem contar as despesas com outro recrutamento.
Apesar de o Brasil ter quase 15 milhões de desempregados, alguns segmentos vivem um apagão de mão de obra, por falta de qualificação. É o caso do setor de tecnologia. “Para driblar o problema, a solução é buscar profissionais com capacidade de aprendizado e investir em treinamento”, diz Pieri.
Uma maneira de reduzir o risco é repensar a modalidade do contrato. O trabalho intermitente, por sua atividade não contínua e remuneração por horas trabalhadas, pode ser uma opção para a avaliação do desempenho do colaborador, antes da contratação. A terceirização só é indicada para atividades não relacionadas com o core business.
O que fazer
– A folha salarial representa uma parcela importante das despesas de qualquer organização. Contrate pessoas que contribuam de forma decisiva para a empresa atingir suas metas. Não há mais espaço para quem apenas cumpre o básico de sua função.
– Um funcionário custa para o empreendedor muito mais do que o valor do seu salário. Alguém que ganha R$ 10 mil representa uma despesa total de aproximadamente R$ 17 mil, considerando 13º salário, férias remuneradas, vale-refeição, vale-transporte, seguro de acidentes de trabalho e a contribuição de INSS, entre outras despesas. Investimentos com treinamento também devem entrar nessa conta.
– Como boa parte dos profissionais deve continuar em home office, considere ainda os gastos com computadores, provedor de internet e telefone celular. O funcionário não é obrigado a pagar por recursos indispensáveis à sua atividade profissional.
– Privilegie a contratação de empregados abertos a novos aprendizados e com capacidade de adaptação a novas formas de trabalho. Melhor ainda se eles tiverem mais competências agregadas.
Seleção cuidadosa
Durante a pandemia, o faturamento da Tractian, responsável pelo desenvolvimento de um dispositivo de identificação de falhas e riscos de quebra de equipamentos, vem dobrando a cada dois meses. Para suportar o ritmo de crescimento, a empresa precisa contratar funcionários com frequência. Em dez meses, o número de colaboradores deve passar de 50 para 120.
Para atrair talentos cobiçados do mercado, o fundador, Igor Marinelli, 24 anos, paga salários 25% acima das organizações do setor de referência, entre elas grandes bancos. Em alguns casos, a diferença chega a ser ainda maior. “Minha folha de pagamento equivale a 100% da receita”, diz ele. Os salários são revistos a cada três meses. Em um ano, o funcionário pode ter um aumento acumulado de até 40%, o que expande as chances de retenção do talento.
A estrutura física da Tractian foge do modelo tradicional das startups. Ocupa três andares de um prédio em São Paulo. Dois deles abrigam as áreas administrativas, e no outro está a produção. O empreendimento, como Marinelli costuma definir, é um misto de startup e fábrica, já que cria, desenvolve, produz e aluga os sensores que são colados às máquinas e extraem informações sobre o funcionamento delas. Por essa razão, o perfil dos funcionários é variado.
O processo de seleção, além da entrevista e da análise de currículos, envolve um desafio prático, como pedir para um programador resolver um problema enfrentado recentemente pela própria Tractian. Os funcionários também são incentivados a indicar candidatos. Se a pessoa for contratada, quem fez a sugestão ganha R$ 1 mil.
“Estamos atentos também à importância da diversidade, pois é uma forma de encontrar e contratar talentos incríveis”, diz o executivo. “Temos na equipe negros e pessoas LGBTQIAP+, e o nosso head de pessoas é um homem trans.” A empresa não está aberta a racistas, homofóbicos ou preconceituosos de qualquer espécie.
Investimento
O ideal é melhorar a percepção do cliente e alavancar a empresa
Diante de tantas incertezas, o recomendado é fazer um planejamento flexível, acompanhá-lo de perto ao longo do ano e se antecipar às possíveis mudanças. “Alguns investimentos são cota zero: ou você faz ou está fora do jogo, como um restaurante que não implantou o delivery”, diz Vicente Ferreira, professor do Instituto Coppead e diretor do Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Outros devem ser feitos com base nos novos hábitos dos consumidores, as particularidades do setor e as necessidades do negócio.”
Alguns proporcionam retorno rápido e permitem que o empreendedor recupere grande parte do valor investido, como capital de giro. Nesse caso, Ferreira indica alocar até 80% da reserva. Outros têm prazo de maturação mais longo e não dão margem para arrependimento.
Por último estão os intermediários, em que o empresário consegue recuperar parte do dinheiro, como a compra de um veículo novo. Se não der certo, basta vendê-lo. Em ambos, o limite deve ser de 50%. Para saber o retorno de um investimento, tenha em mãos a DRE, conforme o exemplo abaixo:
Tabela (Foto: )
Converta o percentual da margem de contribuição (31,7%) em número (0,317). Imagine agora que um novo equipamento custe R$ 150 mil. Divida esse valor pelo percentual da margem de contribuição: R$ 150 mil/0,317 = R$ 473,18 mil. O resultado é o incremento total de vendas que o equipamento precisa proporcionar para se pagar.
O que fazer
– A disputa pela preferência do consumidor costuma se acirrar em momentos de escassez. Com a pandemia, ele se acostumou a ser prontamente atendido, a receber suas compras em casa e a ter várias opções de pagamento. Um dos melhores investimentos é fazer da compra uma experiência especial para o cliente. Desde agilizar a entrega até reformar a loja para torná-la mais atrativa e aconchegante e treinar os funcionários. “O melhor investimento vai ser aquele que mexer com a percepção das pessoas”, diz Ferreira.
– Aposte nas vendas online. Se não quiser ter a sua própria loja virtual, vá para os marketplaces. Embora a margem de lucro seja menor, esses portais concentram um grande tráfego de consumidores.
– Conforme o momento da empresa, invista em novas tecnologias e equipamentos, no desenvolvimento de produtos, na capacidade de inovação e no fortalecimento da marca.
– Cuidado ao avaliar o estoque. Manter um volume grande de mercadorias paradas na tentativa de se proteger da inflação reduz a competitividade e exige uma margem de lucro maior.
– Se insistir em reforçar o estoque, compre itens que tenham maior giro e possam melhorar o fluxo de caixa.
Em busca de venture capital
A MOL, plataforma online de resolução de conflitos, teve de agir rápido para não perder uma grande oportunidade. Desde sua fundação, em 2014, a startup tinha apenas clientes corporativos, mas as sócias Melissa Felipe Gava e Camila Feliciano Lopes sonhavam em despertar também o interesse dos tribunais estaduais de Justiça. O ritmo das conversas, no entanto, sempre foi muito lento.
Até a pandemia. Com as atividades paralisadas, 15 dessas instituições recorreram a elas. Da noite para o dia, a demanda cresceu e foi preciso agir rápido. “Um único tribunal equivale ao volume de trabalho de dez empresas”, compara Melissa. Ela investiu na contratação de novos colaboradores. O total saltou de 40 em 2020 para os atuais 70. Em seguida, ofereceu treinamentos para ensinar como um negócio tradicional baseado no mundo físico passou a funcionar no digital.
Por fim, comprou a Robobiz, starturp especializada em RPA (Robotic Process Automation). Elas não revelam o valor da transação, mas a aquisição vem permitindo maior ganho de escala e ampliação do leque de atuação. Antes do isolamento social, a MOL tinha seis clientes. Agora são 50.
Desde sua fundação, já fez 200 mil mediações — 100 mil somente do ano passado para cá. A expectativa é chegar a 2 milhões de casos resolvidos até o final de 2023. A MOL consegue reduzir o tempo médio de resolução de conflitos de 912 para 9 dias, e os custos dos processos de R$ 2,5 mil para R$ 250. Números impressionantes que atraíram clientes de peso, como Banco Itaú, Magazine Luiza e Mercado Livre.
Para suportar esse crescimento, a empresa, que já tinha captado investimentos anteriores à pandemia, busca agora novos recursos para crescer, aportar em tecnologia e oferecer mais serviços. Melissa não revela o valor desejado. “Há muito dinheiro disponível no mercado para venture capital”, diz. “Se você tem um bom plano de crescimento, é hora de expandir e ter uma postura mais agressiva. Fazer isso com recursos próprios leva mais tempo.”
Fluxo de Caixa
Acompanhe diariamente a entrada e saída de recursos
Uma boa gestão financeira passa necessariamente pelo controle rigoroso do fluxo de caixa. É um instrumento que auxilia o empreendedor a tomar decisões com mais segurança.
Para saber se a empresa está ou não dando lucro, basta anotar todas as despesas, como pagamento de fornecedores, compra de matéria-prima, aluguel do imóvel, tributos e salário dos funcionários, entre outras, e comparar com a entrada de dinheiro.
Acompanhe diariamente a evolução desses números para agir rapidamente quando necessário. “Com o resultado em mãos você consegue saber se vai ser necessário buscar recursos ou se está correndo o risco de quebrar, ter uma expectativa de vendas baseada no histórico e fazer o planejamento orçamentário pensando no futuro do negócio”, diz Iavelberg, da Blue Numbers. “Ninguém consegue acertar 100% de suas projeções, mas é bem provável chegar a 85%, o que é ótimo.”
O fluxo de caixa é um retrato do passado; daquilo que foi realizado num dia, semana ou mês, conforme a frequência com que é feito. Olhar, no entanto, apenas para esses números é um risco. O dinheiro que aparece sobrando no caixa pode estar comprometido com pagamentos de fornecedores e de boletos, no futuro.
Os prazos também são importantes para a gestão do fluxo de caixa, como as datas em que os fornecedores e funcionários são pagos e quando se recebem as vendas, à vista e a prazo. Quem paga as contas em 30 dias e recebe suas vendas em 60 tem um problema de capital de giro e tem de antecipar recebíveis, fazer empréstimos ou usar o próprio dinheiro para manter as contas equilibradas. A situação se agrava se o nível de inadimplência aumentar.
O que fazer
– O controle do fluxo de caixa é imprescindível para manter as contas no azul. Quem não tem o hábito de fazer esse levantamento, comece já.
– O prazo para pagar fornecedores está apertado? Negocie mais tempo. O dinheiro das vendas a prazo demora para entrar? Ofereça um desconto a quem paga à vista. O estoque está sem saída e você precisa de capital? Faça uma promoção para desovar as mercadorias paradas e elabore uma programação de compras mais cuidadosa.
– Não adie o pagamento dos impostos. Inclua-o no fluxo de caixa.
– Quem não tem uma reserva financeira para pagar as despesas de seis meses provavelmente terá de recorrer a empréstimos. Some esses valores às despesas constantes do fluxo de caixa.
Cautela e serenidade
A empresária Ana Paula Xongani, 33 anos, sócia-fundadora do Ateliê Xongani, especializado em moda afro-brasileira, tem como prática trabalhar com um cenário menos otimista, ao fazer o planejamento financeiro da empresa. Para 2022 não será diferente, embora as metas traçadas não escondam a expectativa de um ano melhor: aumentar o percentual de vendas, controlar as despesas fixas para que não aumentem e contratar profissionais por projeto, o que reduz os custos.
Para não ser pega de surpresa, ela tem um funcionário dedicado a analisar o fluxo de caixa. “Organizamos as contas a pagar e receber duas vezes por semana”, diz Ana Paula. “Se algo está muito fora do planejado, sou informada imediatamente.” Ela também faz uma análise mensal dos resultados das vendas, das despesas fixas, dos custos e do impacto desses dados a cada trimestre e no ano.
Esse acompanhamento dá à empreendedora mais confiança para tomar decisões sobre investimentos, como contratar pessoas, desenvolver novos modelos de negócio, ampliar ou reduzir custos para novas coleções e definir políticas comerciais menos ou mais vantajosas para o cliente.
Sempre que faz a projeção do fluxo de caixa, Ana Paula procura entender qual é o valor mínimo dos custos e das despesas para operar com tranquilidade. Além disso, se apoia numa perspectiva de vendas realista. “Somos uma empresa pequena e prefiro seguir devagar e sempre a arriscar demais e prejudicar as pessoas que trabalham comigo ou são parceiras de negócio”, diz. “Dá trabalho preencher planilhas, fazer relatórios e usar sistemas, mas sem isso a operação fica no escuro.”
Quando o recebimento das vendas a prazo ocorre num período superior ao do pagamento dos fornecedores, a empreendedora procura negociar prazos menores. Ana Paula sabe da importância de ter uma reserva financeira para enfrentar momentos de crise. A da Xongani foi criada para suportar o pagamento de três meses do total das despesas fixas da empresa.