O período menstrual representava incômodo e baixa autoestima para a jovem Maria Letycia Souza dos Santos, 20 anos. Determinada a mudar a sua relação com o próprio ciclo, ela buscou alternativas na internet e descobriu os absorventes reutilizáveis, versão repaginada dos paninhos usados antes dos absorventes descartáveis. Ao lado da avó, Maria Íris de Souza Oliveira, 72 anos, ela criou a marca Ecoforeva para possibilitar que outras pessoas fizessem as pazes com o período da mesma forma que ela.
A marca nasceu em fevereiro de 2020, pouco antes do início da pandemia. Aos 17 anos, Santos costumava odiar o próprio corpo quando estava menstruada, sofrendo com desconfortos. Buscando entender melhor o que acontece durante o ciclo, ela encontrou tutoriais na internet e pediu para a avó costurar alguns absorventes de teste. Com pouco tempo de uso, percebeu que não odiava mais a chegada do período menstrual. “De um sentimento de não conseguir acreditar que era possível viver assim, com naturalidade, nasceu a vontade de proporcionar o mesmo para outras pessoas. Minha avó segurou a minha mão nesse projeto e juntas cuidamos de tudo”, explica.
A relação entre neta e avó é muito próxima. Entre os familiares, há quem diga que uma não desgruda da outra. Letycia é a mais velha dos sete netos de Oliveira, que sempre trabalhou com costura e já teve uma fábrica de calçados e bolsas. Antes de embarcar no negócio criado pela neta, vendia geladinho (no Ceará, dindin) gourmet. “Minha vó é a minha mãe, madrinha, melhor amiga. Somos colegas de quarto. Fazemos tudo juntas, para onde eu vou, ela vai junto”, conta.
Como tantos outros, Santos acredita que já nasceu com espírito empreendedor. Estudante de jornalismo, ela recorda que na infância, comprava cartelas de figurinhas para revender na escola. Depois, vendeu brownies e mudas de cactos, além de constantemente realizar bazares de roupas que não usava mais. “Eu não queria que a Ecoforeva fosse um hobby, queria que realmente se tornasse uma empresa”, afirma.
Os absorventes da marca são produzidos em um quarto específico para isso na casa da família, em Fortaleza, onde a jovem cuida do corte e do molde e a avó faz a costura. Eles estão disponíveis em três tamanhos, semelhantes aos absorventes tradicionais encontrados no mercado, e são feitos com tecidos diferentes: a primeira camada, que entra em contato direto com o corpo, é 100% algodão. Depois, vêm tecido hiperabsorvente e waterblock, tecido impermeável para impedir vazamentos. A durabilidade estimada é de 3 a 4 anos.
Por causa da pandemia, as vendas ficaram suspensas por cinco meses para não expor Oliveira. Enquanto isso, Santos se manteve firme nas redes sociais, produzindo conteúdo informativo e criando a comunidade em torno da Ecoforeva. Como forma de educar o público sobre os produtos, a jovem resolveu produzir um vídeo com a avó para tirar as dúvidas sobre a semelhança dos absorventes reutilizáveis com os paninhos utilizados antigamente. O conteúdo fez sucesso e a demanda começou a aparecer de todo o Brasil. “O vídeo foi essencial para o crescimento da marca. Muita gente se identificou comigo, com ela, com o produto, que tem tecnologia, é confortável e sustentável”, afirma
A ideia da empreendedora era criar um espaço onde meninas como ela pudessem encontrar conteúdo sobre menstruação de forma leve e divertida. “Não precisa ser sério, distante. Dá para ser descontraído, com memes, referências do mundo pop, colorido”, aponta. O Instagram da marca reúne quase 20 mil seguidores.
Entre as clientes estão desde adolescentes que estão começando a menstruar, entre 12 e 13 anos, até pessoas entrando na menopausa, já perto dos 50 anos. O público-alvo é entre 13 e 22 anos. Nos dois anos de marca, mais de 2 mil pessoas já compraram os produtos da Ecoforeva.
Para este ano, Santos pretende expandir a empresa, começando a enviar para outros países, atendendo a demanda que já existe na América Latina, em Portugal e em Angola. “Não queremos que ninguém ame a menstruação, mas que o período seja vivido com mais naturalidade, sem extremos de amor e ódio”, diz.