Pelo segundo ano consecutivo, a Troposlab, empresa especializada em inovação, uniu-se à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para traçar um panorama sobre a saúde mental dos empreendedores durante a pandemia causa pela covid-19. O estudo mostra que 30% dos empreendedores consultados iniciaram acompanhamento psicológico no período. Também houve um aumento no número de diagnósticos de ansiedade e depressão.
A pesquisa foi realizada virtualmente entre 1 de julho e 16 de agosto deste ano. 312 empreendedores participaram do estudo, que mapeou como os negócios foram impactados pelo distanciamento social e pelas incertezas do período de pandemia. Dentre os participantes, 60% não precisaram fechar as portas nenhuma vez, mas tiveram de fazer adaptações para manter o negócio em funcionamento. Uma parcela de 54,81% afirma ter enfrentado queda na renda durante o último ano.
“Sabemos que empreender é se arriscar, mas a pandemia trouxe o extremo das circunstâncias, afetando o mercado e os negócios”, afirma Marina Mendonça, sócia e diretora de cultura e times da Troposlab. Para ela, ainda que o empreendedor seja visto com frequência como um profissional resiliente e acostumado a lidar com adversidades e desafios, precisamos relembrar que estamos falando, antes de tudo, sobre pessoas. “Entendemos que o empreendedor é um ser humano vulnerável às condições que vivencia. A partir dos dados, queremos reconstruir o significado social do empreendedor e orientar para intervir, prevenir e proporcionar mais saúde”, explica Mendonça.
Na pesquisa de 2021, 53% dos entrevistados disseram se sentir afetados pela pandemia, mas dizem se sentir bem na maior parte do tempo. Ao todo, 30% iniciaram acompanhamento psicológico, 53% receberam diagnóstico de ansiedade e 11% de depressão. 26% iniciaram tratamento psiquiátrico com uso de medicamentos (ansiolítico, antidepressivo ou ambos) – ante um percentual de 16% na edição anterior da pesquisa. “O empreendedor veio de um período estressor muito grande. Quando temos um contexto de estimulação negativa, sem perspectiva de melhora, ficamos tensos”, afirma Deisy Emerich Geraldo, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e doutora em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP.
Para a psicóloga, a situação foi ainda mais delicada para os micro e pequenos empreendedores, que costumam ter uma relação mais próxima com a equipe. A necessidade de realizar cortes para manter o negócio e o consequente impacto nas famílias, segundo ela, podem ter abalado o seu estado mental. Na pesquisa, quase 27% dos entrevistados são MEI, 36% são donos de microempresas, com faturamento anual de até R$ 360 mil, e 22% são pequenos empreendedores, com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 4,8 milhões.
A profissional listou algumas dicas para aliviar a sensação de ansiedade e tristeza. Segundo ela, é normal que esses sentimentos surjam em contextos de estresse. Algumas práticas podem ajudar a diminuir o impacto da tensão no dia a dia, mas, sempre que possível, buscar acompanhamento psicológico também é recomendado.
– Cuidado com a qualidade de vida: pratique exercícios físicos, procure se alimentar de forma saudável e equilibrada e maneire no consumo de álcool;
– Separe um tempo para atividades de lazer: empreender traz realização e felicidade, mas o processo é árduo, não é mesmo? O lazer é o que lhe trará prazer durante a prática. Ler, pintar, assistir a um filme ou participar de rodas de discussão são alguns exemplos. Procure uma atividade que te force a parar e desconectar do trabalho;
– Pratique a respiração diafragmática: essa técnica ajuda a “avisar” o cérebro que não existe nenhum perigo por perto. Há diversos aplicativos gratuitos que oferecem instruções para a prática de respiração.