A região Sul do país é a mais importante produtora de móveis do Brasil. Reunindo empresas familiares tradicionais e negócios inovadores, os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná se destacam há anos no mercado. A cidade de Bento Gonçalves (RS), por exemplo, tem como carro-chefe econômico a produção moveleira.
Não por acaso, ela recebe em 2018 a 21ª edição da Movelsul Brasil, maior feira de móveis da América Latina, evento que abriu suas portas no último mês.
Promovida pelo Sindmóveis (Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves), a feira conta com 246 expositores, em grande parte empresas locais da região Sul. Com expectativa de receber 30 mil visitantes, além de compradores de 50 diferentes países, a feira traz como principal objetivo para 2018 aproveitar a retomada do setor.
Após quatro anos seguidos de números negativos e demissões, o mercado moveleiro apresentou nos últimos dois trimestres um crescimento positivo. No ano passado, o setor fechou com crescimento de 4,6 % ao ano – primeiro número positivo desde 2014. Os dados são do Sindmóveis.
Para Marcos Lélis, consultor da Abimovel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), as dificuldades muito têm a ver com a crise econômica do país, que afetou em cheio o mercado de construção civil. “Indiretamente, o mercado moveleiro foi quem mais sentiu”, diz.
A situação, de acordo com Lélis, só mudou em 2017, com os resgates do FGTS inativo. “Deu um salto nas vendas e marcou a retomada.” Na visão do consultor, os empreendedores podem esperar um 2018 mais positivo. “As expectativas é que o crescimento seja mantido”, diz.
Para Edson Pelicioli, presidente da Movelsul Brasil, a melhor saída para o momento difícil que o setor passou é investir na indústria nacional. “Existe um movimento favorável ao setor e a feira é a entrega de um trabalho que quer levar Bento Gonçalves e região para o mundo”, afirma.
Empreendedores que fazem a diferença
De olho na retomada do setor, o empreendedor Antônio Duarte, 63, fundador da Classe A Lareiras Ecológicas, de Sapucaia do Sul, investiu alto na divulgação do seu produto na Movelsul Brasil.
“Foi caro estar aqui no evento. Tenho que aproveitar cada minuto.” Com um dos estandes mais lotados da feira, o empreendedor chama a atenção do público por seu produto inovador.
Duarte desenvolveu uma lareira que, em vez de utilizar lenha para o aquecimento das casas e ambientes corporativos, gera fogo por meio da queima do álcool em uma estrutura metálica. As peças são terceirizadas e finalizadas na indústria do empreendedor.
Em 2017, comercializaram 1600 unidades, faturando R$ 1,5 milhão em 2017. Com ticket-médio de R$ 990, a meta é vender 3 mil peças e faturar R$ 4 milhões no ano.
“Temos clientes na Bahia e em Brasília. Acredito que a empresa esteja num caminho interessante. Estamos crescendo e isso é bom. Aliás, preciso voltar para o estande”, conclui Duarte.
A mulher por trás dos ambientes corporativos
Cintia Ceriotti Weirich, 35, é outra empreendedora que só pensa em crescer no ano de 2018. Responsável pela MóveisDelucci, empresa especializada na fabricação de poltronas e cadeiras para ambientes corporativos, Cintia conta que parte do sucesso da empresa foi buscar a parceria com instituições como Sebrae e Senai.
“A nossa confecção de design foi feita em conjunto com a equipe de consultores do Senai”, diz. Sem dizer quantos móveis comercializou em 2017, a empreendedora revela que a empresa faturou R$ 1,5 milhão no ano passado.
“Foi pouco ainda para o que trabalhamos e queremos. Já faturamos isso em 2018.” De acordo com Cintia, a meta para 2018 é atingir os R$ 5 milhões. “O negócio embalou mesmo e não podemos perder o pique.”
Trigêmeos, sócios e inovadores
Outra empresa que está expondo seus negócios na Movelsul Brasil é a BRV Móveis, empresa de Bento Gonçalves fundada por Volnei Benini e hoje tocada por seus três filhos, os trigêmeos Bruno, Rodrigo e Vinicius.
Especializada na fabricação de racks, mesas e nichos, a empresa fundada em 2003 encontrou um gap de mercado ainda no início do século: investiu em e–commerce quando pouco se falava no modelo.
Para isso, adaptou toda a sua linha de produtos – facilitando a montagem para os clientes – e apostou suas fichas no e-commerce. Deu certo. O grupo faturou R$ 28 milhões em 2017, exportando para 31 países e cobrindo todo o Brasil.
“Ganhamos na escala da produtividade. Temos capacidade para produzir 30 mil peças por mês. Quem compra na internet quer que o produto chegue logo. Nosso trabalho é entender essa necessidade e trabalhar em cima disso.”
*O jornalista viajou a convite da Sindmóveis